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Instalado laboratório 'sem paredes' no campus
Embrapa usa bioinformática na produção de
novos produtos e na descoberta da cura de doenças graves
CLAYTON
LEVY
A
bioinformática brasileira já conta com uma poderosa ferramenta para
análise da estrutura e das funções das proteínas codificadas pelos
genes na formação dos seres vivos. Trata-se do Núcleo de
Bioinformática (NBI), um sofisticado laboratório que, por meio de
simulações em computadores, permitirá realizar os chamados estudos
de genoma estrutural e genoma funcional, que vão além do simples
mapeamento dos genes. Recém-inaugurado pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a unidade, primeira do gênero no
Hemisfério Sul, funcionará no Centro de Informática Agropecuária da
Embrapa, no campus da Unicamp.
As
pesquisas que começam a ser desenvolvidas pelo NBI representam um
importante avanço na produção de novos fármacos, agrotóxicos,
vacinas ou mesmo na descoberta da cura de doenças graves, como o
câncer. Por meio de combinações matemáticas, o núcleo poderá simular
a estrutura protéica originada dos genes seqüenciados e identificar
rapidamente suas funções. "Seria impossível realizar um trabalho
como esse num laboratório convencional", diz o chefe da Embrapa
Informática Agropecuária, José Gilberto Jardine.
O
sistema que permite esse tipo de pesquisa foi batizado de Sting
Millenium Suíte, um software desenvolvido com tecnologia totalmente
nacional. A ferramenta consegue simular em três dimensões as
proteínas encontradas nos genes. "Com isso, podemos observar toda a
sua estrutura de forma rápida e segura", explica o líder do NBI,
Goran Neshic. O desenvolvimento do software está incluído no
investimento de R$ 2,5 milhões aplicado na estrutura do NBI. O
projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Outros R$ 500 mil vieram da própria Embrapa.
Além de funcionar como cen-tro de pesquisa, o núcleo também
oferecerá serviços, por meio de softwares e bancos de dados na área
de bioinformática. "O núcleo atuará como um laboratório sem paredes,
já que todos os seus dados e serviços poderão ser acessados pela
internet", diz Neshic. Laboratórios farmacêuticos e agroquímicas,
por exemplo, poderão produzir novos medicamentos e agrotóxicos. O
sistema, segundo o líder do núcleo, também poderá trazer importantes
avanços para todos os produtos já seqüenciados no Brasil, onde as
pesquisas desse tipo estão concentradas na
agricultura.
Segundo o diretor presidente da Embrapa, Alberto Duque
Portugal, o núcleo poderá ajudar nas pesquisas com cana-de-açúcar,
laranja, cacau e principalmente no projeto genoma de raízes.
Culturas como soja, milho, arroz, feijão, trigo e algodão estão
nesse programa. "Num país de clima tropical como o Brasil é
importante desenvolver o genoma raiz", diz. O núcleo, segundo ele,
terá condições de deslanchar as pesquisas para soluções de doenças
que atacam as raízes das plantas como, por exemplo, o
nematóide.
Mudanças climáticas e previsão de safras
N
a mesma cerimônia de inauguração do Núcleo de Bioinformática,
realizada no último dia 21, também foi firmado um convênio entre a
Embrapa e a Unicamp, para viabilizar a Rede Nacional de
Agrometeorologia. O sistema consiste num site na Internet, no qual
estão disponíveis informações sobre clima, agricultura, zoneamento
de riscos climáticos e links para previsão do tempo em todo o
território nacional. A Universidade participará do projeto através
do Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura (Cepagri) e da
Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri).
O
intercâmbio com o Cepagri visa desenvolver modelos para avaliação de
impactos de mudanças climáticas na agricultura; sistemas para
monitoramento agroclimático e implantação, em parceria com outras
instituições de pesquisa, da Rede Nacional de Agrometeorologia
(RNA). A RNA é o resultado de um esforço integrado de 27
instituições, que sob a coordenação do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, montaram um website com diversos tipos de
informações agrometeorológicas para o Brasil.
O
convênio com a Feagri tem como objetivo promover a integração de
esforços entre as instituições para a execução da linha de pesquisa
de "Geotecnologia e Geoprocessamento aplicado à previsão de safras"
em nível de mestrado e doutorado. A Unicamp possui grande
experiência em previsão de safra para a cana-de-açúcar e com a
participação da Embrapa os estudos poderão ser ampliados para outras
culturas, quando serão compartilhadas as competências, equipamentos
e financiamentos de pesquisa na área entre as
instituições.
Rede interliga instituições
O
Núcleo de Bioinformática (NBI) já está sendo usado por pesquisadores
do mundo inteiro. Um dos principais canais de comunicação com o
núcleo, entre outros, é a rede internacional Protein Data Bank (www.rcsb.org/pdb), com sede no
Centro de Supercomputação em San Diego, na Universidade da
Califórnia. Segundo Neshic, o acesso é livre e gratuito para
qualquer instituição acadêmica do mundo. Empresas também podem
consultá-lo, mas terão de pagar cerca de US$ 1,5 mil se quiserem
usá-lo para fabricar um novo produto.
Para a troca de dados, também foi formado um consórcio no
Brasil entre Embrapa, Unicamp, Fiocruz e o Laboratório Nacional de
Computação Científica. O objetivo é trocar informações com
instituições que integram a Rede Européia de Biologia Molecular
(Embnet). Além disso, o sistema também trará benefícios para
especialistas da própria Embrapa. "Cientistas de todos os nossos
centros poderão usá-lo para agilizar suas pesquisas", diz o diretor
presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal.
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