196 - ANO XVII - 28 de outubro a 3 de novembro de 2002
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Instalado laboratório 'sem paredes' no campus

Embrapa usa bioinformática na produção de novos
produtos e na descoberta da cura de doenças graves

CLAYTON LEVY

Goran Neshic, líder do NBI, núcleo da Emprapa recém-inaugurado no campus da Unicamp: "Podemos observar toda a estrutura dos genes de forma rápida e segura"A bioinformática brasileira já conta com uma poderosa ferramenta para análise da estrutura e das funções das proteínas codificadas pelos genes na formação dos seres vivos. Trata-se do Núcleo de Bioinformática (NBI), um sofisticado laboratório que, por meio de simulações em computadores, permitirá realizar os chamados estudos de genoma estrutural e genoma funcional, que vão além do simples mapeamento dos genes. Recém-inaugurado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a unidade, primeira do gênero no Hemisfério Sul, funcionará no Centro de Informática Agropecuária da Embrapa, no campus da Unicamp.

As pesquisas que começam a ser desenvolvidas pelo NBI representam um importante avanço na produção de novos fármacos, agrotóxicos, vacinas ou mesmo na descoberta da cura de doenças graves, como o câncer. Por meio de combinações matemáticas, o núcleo poderá simular a estrutura protéica originada dos genes seqüenciados e identificar rapidamente suas funções. "Seria impossível realizar um trabalho como esse num laboratório convencional", diz o chefe da Embrapa Informática Agropecuária, José Gilberto Jardine.

O sistema que permite esse tipo de pesquisa foi batizado de Sting Millenium Suíte, um software desenvolvido com tecnologia totalmente nacional. A ferramenta consegue simular em três dimensões as proteínas encontradas nos genes. "Com isso, podemos observar toda a sua estrutura de forma rápida e segura", explica o líder do NBI, Goran Neshic. O desenvolvimento do software está incluído no investimento de R$ 2,5 milhões aplicado na estrutura do NBI. O projeto foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Outros R$ 500 mil vieram da própria Embrapa.

Além de funcionar como cen-tro de pesquisa, o núcleo também oferecerá serviços, por meio de softwares e bancos de dados na área de bioinformática. "O núcleo atuará como um laboratório sem paredes, já que todos os seus dados e serviços poderão ser acessados pela internet", diz Neshic. Laboratórios farmacêuticos e agroquímicas, por exemplo, poderão produzir novos medicamentos e agrotóxicos. O sistema, segundo o líder do núcleo, também poderá trazer importantes avanços para todos os produtos já seqüenciados no Brasil, onde as pesquisas desse tipo estão concentradas na agricultura.

Segundo o diretor presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal, o núcleo poderá ajudar nas pesquisas com cana-de-açúcar, laranja, cacau e principalmente no projeto genoma de raízes. Culturas como soja, milho, arroz, feijão, trigo e algodão estão nesse programa. "Num país de clima tropical como o Brasil é importante desenvolver o genoma raiz", diz. O núcleo, segundo ele, terá condições de deslanchar as pesquisas para soluções de doenças que atacam as raízes das plantas como, por exemplo, o nematóide.

Mudanças climáticas e previsão de safras

N a mesma cerimônia de inauguração do Núcleo de Bioinformática, realizada no último dia 21, também foi firmado um convênio entre a Embrapa e a Unicamp, para viabilizar a Rede Nacional de Agrometeorologia. O sistema consiste num site na Internet, no qual estão disponíveis informações sobre clima, agricultura, zoneamento de riscos climáticos e links para previsão do tempo em todo o território nacional. A Universidade participará do projeto através do Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura (Cepagri) e da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri).

O intercâmbio com o Cepagri visa desenvolver modelos para avaliação de impactos de mudanças climáticas na agricultura; sistemas para monitoramento agroclimático e implantação, em parceria com outras instituições de pesquisa, da Rede Nacional de Agrometeorologia (RNA). A RNA é o resultado de um esforço integrado de 27 instituições, que sob a coordenação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, montaram um website com diversos tipos de informações agrometeorológicas para o Brasil.

O convênio com a Feagri tem como objetivo promover a integração de esforços entre as instituições para a execução da linha de pesquisa de "Geotecnologia e Geoprocessamento aplicado à previsão de safras" em nível de mestrado e doutorado. A Unicamp possui grande experiência em previsão de safra para a cana-de-açúcar e com a participação da Embrapa os estudos poderão ser ampliados para outras culturas, quando serão compartilhadas as competências, equipamentos e financiamentos de pesquisa na área entre as instituições.

Rede interliga instituições

O Núcleo de Bioinformática (NBI) já está sendo usado por pesquisadores do mundo inteiro. Um dos principais canais de comunicação com o núcleo, entre outros, é a rede internacional Protein Data Bank (www.rcsb.org/pdb), com sede no Centro de Supercomputação em San Diego, na Universidade da Califórnia. Segundo Neshic, o acesso é livre e gratuito para qualquer instituição acadêmica do mundo. Empresas também podem consultá-lo, mas terão de pagar cerca de US$ 1,5 mil se quiserem usá-lo para fabricar um novo produto.

Para a troca de dados, também foi formado um consórcio no Brasil entre Embrapa, Unicamp, Fiocruz e o Laboratório Nacional de Computação Científica. O objetivo é trocar informações com instituições que integram a Rede Européia de Biologia Molecular (Embnet). Além disso, o sistema também trará benefícios para especialistas da própria Embrapa. "Cientistas de todos os nossos centros poderão usá-lo para agilizar suas pesquisas", diz o diretor presidente da Embrapa, Alberto Duque Portugal.