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BIOINFORMÁTICA Programa criado por pesquisador da
Embrapa já foi acessado mais de 5 milhões de vezes em todo o
mundo
"Ferrão" ajuda a achar função de proteína
ISABEL GERHARDT DA REPORTAGEM LOCAL
Para aqueles que acompanham os projetos genoma
brasileiros, é bom saber que o país não entende apenas de DNA, mas de
proteína também. Uma ferramenta de bioinformática nacional, que auxilia no
estudo da função de proteínas, já está disponível inclusive no site do PDB
(Protein Data Bank), o "oráculo" mundial de sequências de proteínas
-equivalente ao GenBank, onde são depositadas as sequências de DNA. O
software Sting (Sequence To and withIN Graphics), que quer dizer "ferrão"
em inglês e tem como símbolo uma abelha, foi criado pelos pesquisadores da
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Goran Neshich e
Roberto Togawa, além de Georgios Pappas Jr., da Universidade Católica de
Brasília, do americano Barry Honig, da Universidade Columbia, e sete
estudantes da Universidade de Brasília. "É um programa que facilita o
estudo de interações entre proteínas", explica Neshich à Folha, enquanto
mostra a estrutura tridimensional de uma protease (proteína que degrada
outras proteínas) na tela de seu computador, na Embrapa Informática
Agropecuária, em Campinas (SP). Apesar de toda a festa com os genomas
sequenciados, já não é de hoje que os cientistas vêm dizendo que não basta
conhecer a sequência de DNA de um organismo. Afinal, o DNA é apenas o
repositório da informação, que precisa ser traduzida para a linguagem dos
aminoácidos -os blocos construtores das proteínas. São estas moléculas as
principais responsáveis pelas reações no interior das células que fazem os
seres vivos serem como são. Só que proteínas não agem sozinhas. Ou elas
se ligam a outras proteínas, ou a outros tipos de moléculas, como
vitaminas. O diferencial do Sting com relação aos demais programas que
existem no mercado está justamente na ênfase que ele dá a essas
interações, pois revela os detalhes das superfícies das proteínas. "Se
você tem mais de uma cadeia protéica, o Sting diz quais são os aminoácidos
pertencentes às diferentes cadeias. Pode-se observar a interface das
proteínas, e é lá que as coisas acontecem", explica. Segundo Neshich,
nos dois anos e meio desde o seu surgimento, o Sting foi acessado mais de
5 milhões de vezes.
Pioneiro da rede Neshich é
físico-químico de origem sérvia (em sua página na Internet existem links
sobre a guerra na Iugoslávia), com doutorado em Illinois (EUA). Acabou
vindo parar no Brasil porque conheceu e se casou com uma brasileira,
Damares Monte, também pesquisadora da Embrapa. Neshich é um pioneiro da
bioinformática nacional. Foi ele o idealizador da BBNet (BrazilianBioNet),
uma rede de usuários de bioinformática, formada em 1992, que permitiu o
primeiro acesso dos cientistas brasileiros aos programas de análise de
sequências de DNA de forma gratuita, por intermédio de um computador
(servidor) da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. "Pode-se
dizer que a história do Sting vem dessa época. O pessoal usava o GCG e o
GenBank (softwares para análise de DNA) e sempre pedia para fazer alguma
coisa com estrutura de proteínas, também de forma gratuita", conta
Neshich. Ele diz que os pacotes comerciais de análise de proteínas podem
custar até US$ 100 mil. O pesquisador afirma que a nova versão do Sting
deverá estar no Protein Data Bank como parte integral da página do banco
de dados de proteínas. Pelo menos esse foi o convite que Neshich recebeu
no início de março de Phil Bourne, do Centro de Supercomputação da
Universidade da Califórnia em San Diego e um dos coordenadores do Protein
Data Bank. "O pessoal de biologia molecular não sabe como fazer um
programa desses, mas tem necessidade, e os bioinformatas sabem, mas não
têm interesse", diz. O pesquisador explica que o funcionamento do
programa é bastante simples. Quem quiser conferir, basta clicar no
endereço http://www.cbi.cnptia.embrapa.br/.
Lá, além do Sting, estão outros programas para análise de
proteínas.
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